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Como Escrever um Diário Pode Ajudar na Escrita?

 



Muitos escritores têm como hábito escrever um diário, mesmo que não seja um diário convencional, é um diário ou um bloco de apontamentos onde apontam inspirações diárias. No entanto, existem também escritores que para além dos seus escritos nada mais escrevem. Neste artigo, vou explicar como utilizar o diário de uma forma prática e de forma a ser uma preciosa ferramenta para escrever. O que vou ensinar não é nada de novo, tenho a certeza que já foi mencionado noutros livros e cursos de escrita. Uma das fontes em que me inspirei foi o livro A Grande Magia, outro foi este vídeo que vi sobre como escrever um diário quando se sente raiva.



Faz os leitores sentirem as tuas histórias


Escrever um livro não é apenas contar uma história. É fazer o leitor entrar e sentir a história e o que os personagens sentem. Portanto, se eu quisesse contar uma parte da história da Gata Borralheira diria algo como:


A madrasta rasgou-lhe o vestido e ordenou a trabalhar mais na casa. A Gata Borralheira ficou muito triste por não poder ir ao baile. Quando, de repente, apareceu a fada madrinha e disse que ia conceder o seu desejo de ir ao baile.



Nada de novo, mas também não fez sentir nada, pois não? No entanto, se for descrito assim:



A Gata Borralheira sentiu que todo o seu ar tinha sido roubado ao ver a madrasta a afastar-se depois de lhe rasgar o vestido e de lhe ordenar a trabalhar mais na casa. As pernas tremiam, todo o seu corpo dorido implorava por descanso ou por uma pequena esperança que fizesse os seus dias fazerem sentido. Nesse momento, do nada apareceu uma luz, branca pura e cheia de calor, quando reparou com mais atenção viu que era um ser, uma pessoa que ali estava. Tinha chegado por fim a esperança, a pequena alegria com que ela sonhou. A fada madrinha disse «vou conceder o teu desejo de ir ao baile». A Gata Borralheira olhou para ela, sem saber o que dizer deixou de sentir o corpo e até mesmo o chão debaixo de seus pés, sentia-se como se tivesse voado para o paraíso.



Gostaste mais da segunda versão, não foi? Apesar de nunca dizer claramente o que a Gata Borralheira sentia, se alegria ou infelicidade ou até mesmo desespero. Para começar a escrever assim podemos começar com o nosso diário. Claro que se pode escrever assim mesmo sem a ajuda do diário, mas é muito mais difícil torná-lo único e especial. Como viste no texto a cima eu utilizei muitas descrições que são utilizadas em diversos livros e histórias que já leste, como por exemplo as pernas a tremer para representar nervosismo ou tristeza. No entanto, queremos mais do que isso, não é? Queremos utilizar uma descrição única, uma metáfora especial, que seja só nossa e que reflete a nossa forma de sentir. O nosso diário pode nos ajudar a encontrar e a transmitir a nossa forma única de sentir o mundo.




Descrever emoções

Contar uma história é relativamente fácil, afinal basta algo inusitado acontecer no nosso dia para contarmos aquilo o que nos aconteceu a alguém. No entanto, a arte de contar histórias não é apenas contar uma história diferente de todas as outras, até porque há quem diga que todas as histórias já foram contadas, apenas podemos recontá-las de forma original. Claro que podem treinar a escrita de forma a realçar os sentimentos como fiz no ponto anterior, mas o melhor é encontrar metáforas e descrições de sentimentos que sejam intrínsecas ao nosso ser para tornar o livro indiscutivelmente nosso e dar maior valor à nossa escrita. Para fazer isso, apenas cada um de nós pode descrever como se sente perante as diferentes situações que vivemos na nossa vida. Por exemplo, a raiva que sentimos quando recebemos um estalo na cara é igual à que sentimos quando alguém usa a nossa roupa sem a nossa autorização? Não é, pois não? Portanto, para o mesmo sentimento temos várias formas de o sentir e cada pessoa sente de forma única.  Por isso, é importante apontar todas as diferentes emoções que sentimos por dia. Elas são as nossas ferramentas preciosas. 




O melhor é que quando apenas descrevemos sentimentos no nosso diário, continua a ser muito terapêutico, no entanto, nunca nos vamos importar muito se alguém o ler. Afinal, apenas vamos escrever como nos sentimos, não vamos descrever pensamentos, nem desabafar (se o quiseres fazer escreve num diário à parte), não haverá nada a saber e ainda mais vai tudo ser utilizado nas tuas histórias e textos. Primeiro, tens de pensar em tudo o que sentiste nesse dia e se não te lembrares, pelo menos, reflete e sente bem o que estás a sentir no momento da escrita.

Exemplo: Sinto-me com raiva.
Como sinto a raiva? 
  • Sinto os músculos a contrair
  • os dentes cerram-se
  • sinto como uma onda de calor/nervos/mal estar a subir da minha barriga à cara 
  • deixo de pensar
  • as lágrimas chegam aos meus olhos (existem pessoas que quando estão com raiva, choram, eu sou uma delas. As lágrimas não são só símbolo de tristeza)

Pronto, agora temos uma pequena lista de como é sentir raiva, sem a palavra em si, o que é ótimo para descrever sensações no livro. Agora, vamos mais longe. Que metáforas consegues associar àquilo que sentes? Numa história,  descrevi a raiva de uma personagem como a lava quente que sobe até ser expelida do vulcão para representar como nem pensamos o que dizemos quando estamos com raiva, por exemplo. É uma boa descrição de uma raiva que não conseguimos controlar. Desafio-te a experimentares descrever o que é a raiva para ti e como ela se sente no teu corpo. Depois, além das metáforas podes também fazer para  todos os outros sentimentos que surjam em ti.





Geralmente, separo estas descrições de sentimentos e metáforas para depois utilizar nas minhas histórias. A descrição é boa para toda e qualquer descrição de emoções das personagens, são mais gerais e mais fáceis de adaptar enquanto as metáforas requerem situações na história especificas. No entanto, vais ver que são ambas muito fáceis de colocar e vão melhorar muito as tuas histórias

O engraçado é que mesmo quando sinto um sentimento negativo quando o descrevo e o analiso minuciosamente ele dissipa-se como se fosse uma nuvem. Sentes o mesmo? Conta-me tudo nos comentários.


Resumidamente e passo a passo, podes utilizar o teu diário para a tua escrita da seguinte forma: 

  1.  A cada dia escreve a emoção que sentes numa palavra ( por exemplo: raiva, tristeza, alegria, motivação, ansiedade...); 
  2. Descreve o melhor que conseguires como é sentir esse sentimento, como se sente no teu corpo, as sensações que te dá e impulsos ou pensamentos;
  3. Procura metáforas para descrever o que sentes, se alguém nunca tivesse sentido esse sentimento e precisasses de explicar que analogia farias? 
  4. Quando tiveres a escrever a tua história, pensa por uns momentos como a tua personagem se está a sentir e como tu te sentirias se vivesses o que ela vive na tua história, visualiza, sente. Descreve como fizeste anteriormente e utiliza as tuas descrições no teu texto. 



Para mim, o que mais procuro nas minhas histórias é que os leitores consigam sentir algo ao lê-las e considero tão importante quanto o enredo, afinal o que o livro faz sentir é o que vai fazer o leitor ligar-se à história e senti-la como sua. O que o teu livro faz sentir? 





 
Sou blogger e escritora do Wattpad. Comecei a ser blogger para partilhar os meus escritos, mas com o tempo comecei a escrever mais sobre leitura e escrita. Gosto de fugir da realidade para mundos fictícios e acredito que eles ajudam-me a compreender melhor a vida. Não consigo passar um dia sem escrever e sem beber café.

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