Olá escritores e leitores!
Hoje temos mais uma entrevista no blog! A autora Graça Aguiar, que participou no blog no grupo de entrevistas Sete Perguntas, Sete Autores, no último sábado, apresentou o seu novo livro Se o Amor te Acordar, Convida-o a Ficar. Por isso, pensei que nada melhor do que falarmos um pouco sobre este novo livro e o seu percurso como escritora. Já faz algum tempo que sigo a autora Graça Aguiar nas redes sociais e adoro as suas publicações. Se ainda não a conhecem, saibam mais nesta entrevista ;)
MS -Esta não é a primeira vez que a autora Graça Aguiar é entrevistada aqui no blog, mas para quem acabou de chegar, poderia fazer uma pequena apresentação de si como autora e dos seus livros?
GA - Costumo dizer que nos conhecemos tão pouco que, quando temos de falar sobre nós, não sabemos o que dizer. Começo, por isso, pela parte mais fácil e que já o disse noutras entrevistas. Nasci em Lisboa, em Dezembro de 1970. Sou casada e mãe de duas filhas. Profissionalmente sou financeira. Como trabalho a maior parte do tempo a partir de casa, escrever é algo que consigo conciliara com o meu trabalho e sempre que me sinto inspirada. Desde o dia que comecei a escrever que soube que o faria por muito, muito tempo. Quem sabe, até ao fim dos meus dias. Mas nunca pensei chegar ao quarto livro, e já com o quinto iniciado e que será uma sequela deste último. O meu primeiro livro nasceu por mero desafio de duas ou três amigas que, ao dar-lhes a ler uma história que pretendia deixar para as minhas filhas – para estas lerem um dia, se assim o entendessem, – consideraram que seria uma “maldade” deixá-la na gaveta. Acabei por aceitar o desafio e editei-o. Penso que correu bem. Apesar de a escrita ser simples, ainda a precisar de amadurecer, e de ter sido editado sem correção editorial, os leitores prenderam-se à história e acabaram por me passar um feedback bastante positivo. O segundo surgiu exatamente por isso, por várias pessoas me terem pedido para continuar a história da Sara e do André, que acabou por dar origem à da Sara e com o Guilherme. O resultado surpreendeu-me tanto, foi tão positivo, que resolvi continuar a criar histórias. O terceiro livro, já foi algo mais pessoal. Ele nasceu das minha reflexões, dos meus momentos bons e menos bons, das inúmeras interiorizações que fiz enquanto meditava e escrevia. Penso que foi por essa razão que não o entreguei a nenhuma editora e resolvi editá-lo sozinha. Era demasiado meu. Mas não tão meu ao ponto de o querer guardado. Achei que poderia ser mais do que um livro, que poderia ser uma espécie de testemunho que algumas pessoas gostariam ou lhes faria bem ler. O quarto livro… Confesso, sempre que tenho de falar dele, abre-se um mundo que me faz ficar em silêncio. Ele fala tanto sobre a forma como acredito que a vida precisa de ser sentida e vivida, como o comum e o lógico precisa de dar espaço às emoções e ao desconhecido para despertar a nossa humanidade, que só quem lê e conhece a personagem, percebe este silêncio.
MS - Conte-nos mais sobre este novo livro: Se o Amor te Acordar, Convida-o a Ficar.
GA - Como já disse é um mundo que se abre. É um livro de linguagem simples e fluida mas muito profundo, com algumas personagens comuns na nossa sociedade, embora, intensas e vincadas, por vezes até desconcertantes. A Branca, a personagem principal é a que mais se destaca, precisamente, por ser o oposto de todas as outras, por ser incomum. É uma mulher aparentemente indecisa, insegura, com baixa autoestima, assustada com tudo o que sente e da forma como sente, mas que vai fazer uma travessia exemplar e mergulhar no seu desconhecido. Um mundo que a vai ajudar a compreender tudo o que sente, a compreender que cada lugar, pessoa e acontecimento tem uma razão maior para existir como existe. E que afinal, as fragilidades que ela julgava ser algo só dela, são as mesmas de todos os seres humanos, exatamente por isso, por serem humanos. É uma personagem bonita por dentro e por fora, corajosa e sábia que vai brotando ao longo do livro, tocando inadvertidamente em cada uma das outras personagens e levando-as a mudanças surpreendentes, também! Aquele que terá de passar por uma mudança maior é Lourenço, o cunhado de Branca, que a ama desde o dia em que a tirou debaixo de uma chuva torrencial. Lourenço é um personagem tão “carismático”, que resolvi pegar nele e colocá-lo no meu próximo livro. É interessante conhecer um personagem como ele. Um homem intempestivo, por vezes bruto e impulsivo, que solta palavrões a todo o instante mas, que, afinal, é um ser humano genuíno, protetor e apaixonado, capaz de mudar e aceitar uma mulher de uma cultura completamente diferente da sua, que ele considera até um pouco anacrónica, mas que respeita tanto quanto respeita a mulher que ama. Todas as personagens passam por algumas mudanças até ao fim do livro, em que Branca será a principal responsável, não porque faça por isso, mas porque a sua própria mudança as vai levar a alguma consciência que as faz mudar. A minha querida amiga Florbela leu-o duas vezes e disse que vai lê-lo uma terceira vez. A primeira leu-o de forma mais lúdica. A segunda, de forma mais analítica, uma vez que iria apresentar o livro. A terceira, quer lê-lo com maior interiorização para absorver ao máximo todas as mensagens que este livro passa. O meu marido adorou-o simplesmente. Ele é muito sucinto e sincero nas suas opiniões, portanto, quero acreditar que aquele, “Parabéns! Muito bom, cada vez consegues superar mais o anterior”, foi dito com aquela equidade que o carateriza.
MS - O que a escrita lhe ensinou até agora? Como descreve o seu percurso como escritora?
GA - A escrita ensinou-me que através dela podemos conhecer-nos melhor. Muito melhor. Penso, aliás, que todos deveríamos escrever um pouco todos os dias. Transferir para um papel ou computador, tudo o que nos quer sair, sem pensar muito, apenas sentindo. Porque enquanto escrevemos o que sentimos, sem racionalizar, deixando fluir, desvendamos questões que num estado racional não perceberíamos. E isso ajuda-nos a refletir, a abrir consciência. A escrita ensinou-me também que tudo o que se escreve passa uma mensagem a quem a lê e que isso me acresce responsabilidade. Curiosamente, a Íris Pitacas disse exatamente o mesmo na apresentação do meu livro. Quando comecei a escrever não tinha esta perceção. Tive, talvez, a sorte de ter um género de escrita e de assunto que me permitiu trabalhar primeiramente em mim e perceber o que poderia estar a transmitir ao outro. Nesse sentido, considero que houve sempre um caminho evolutivo. Fui escrevendo, lendo e relendo, interiorizando e depois, publicando. No início, creio que era bastante crítica, embora tendesse a deixar sempre uma mensagem positiva no final de cada texto ou poesia. Hoje acho que sou mais ponderada, coerente, talvez. Tento sempre ser fiel ao que acredito e que me faz sentido enquanto escrevo, mas cautelosa ao ponto de não magoar ninguém ou me ter como “senhora da verdade”, pois entendo que não tenho esse direito. Creio que tenho feito um bom percurso, mas que existe ainda muito espaço para melhorar.
Foto de Graça Aguiar |
MS - Gosto muito das reflexões que faz nas suas páginas do FacebookTM e no seu blog Um Sopro da Alma. Conte-nos mais sobre elas, elas são baseadas nas suas experiências, não são?
GA - Absolutamente, sim. E se não são baseadas nas minhas experiências, são nas de alguém muito próximo que me tocou de alguma forma. Considero-as, no entanto, o comum para algumas pessoas, por lhes fazerem sentido ou reavivar alguma memória, alguma consciência que já adquiriram mas ainda não tinham interiorizado ou expressado. Penso que são textos e mensagens que vão ao encontro da natureza humana. Não sou boa a escrever sobre economia, política ou mundo social. Quando o faço – o que é raro – nunca é pelas melhores razões. Sou um pouco crítica nesse sentido. Por isso, prefiro deixar esses temas para os entendidos e escrever sobre o que entendo melhor; sobre pessoas, sentimentos, emoções, algo mais humano, talvez… Algo que me faça sentido e que intuo ser importante transmitir.
MS - Li numa das suas publicações que o mundo precisa de mais introspeção. O que aconselha a fazer numa altura em que tudo convida a refletirmos sobre os nossos hábitos de vida?
GA - Na apresentação do meu livro, “Se o Amor te Acordar, Convida-o a Ficar”, falei precisamente sobre o que me pergunta. O que vou dizer é mais uma opinião, um modo de vida que escolhi para mim e que me ajudou a transformar numa pessoa muito melhor. Na minha opinião, as pessoas precisam de aprender a parar. É urgente fazê-lo. Não falo em parar como no início da Pandemia. Digo parar cinco minutos de manhã, à tarde ou à noite, e refletir sobre o que está a sentir com a vida que tem. Perceber as próprias emoções e tentar melhorá-las. Dedicar uma parte do seu tempo, mesmo que curtinho no início, e aprender a voltar-se para dentro. Aprender a voltar a SER. Nós não somos o que achamos que somos. Nós somos mais, muito mais. Mas fingimos o tempo todo que somos alguém que os outros gostarão ou respeitarão mais. Competimos pelas piores razões, aparentado um padrão de vida, uma inteligência, uma capacidade ou um patamar que na realidade não temos. Valorizamos demasiado a matéria e muito pouco a nossa essência. Temos uma capacidade de criação incrível mas passamos muito tempo a imitar. Só que estamos a ficar tão vazios, que imitamos muitas vezes o que existe de pior! Acreditamos em tudo o que a comunicação social nos impinge! Entupimo-nos de informação manipulada e adulterada. Aderimos a manifestações e contestações sem um fundamento realmente coerente, com a verdade transparente… Lemos duas frases e tiramos dela o motivo suficiente para julgarmos e insultarmos… Obviamente, que os órgãos de comunicação, os políticos e outros quantos cérebros com o mesmo padrão de esperteza, sabem disto! Por isso nos manipulam! E porquê? Precisamente por vivermos a maior parte do tempo voltados para fora; para o que outro diz, para o que outro pensa, para o que outro faz… Somos um observador constante do outro, julgando, insultando, imitando, manipulando… Esquecendo-nos ou ignorando que, dentro de nós existe um mundo muito maior e mais importante do que esse. Porque o mundo de dentro é nosso! É o que fala realmente do que somos, do que precisamos dar sentido e melhorar. Este mundo interior conseguimos transformar. O de fora será sempre o que os outros nos permitirem também que se melhore. Será preciso um esforço coletivo que, só funcionará, no dia em que uma maioria estiver na mesma consciência, pronta para transmitir valores maiores, para ensinar futuras gerações de que o importante é o SER e não o TER. O oposto do que estamos a fazer… É por isso que o planeta está como está. A humanidade perdeu-se no TER, ter cada vez mais e mais, e esqueceu-se de SER. E ao esquecer-se do quão importante é SER, perdeu-se de si mesma. É percetível o desalento das pessoas, o quanto o TER se tornou insuficiente. É por isso que caminhamos tão perdidos e vazios, sem argumentos válidos e construtivos, sem motivação, sem sabedoria, sem alegria, cada vez mais comandados por alguém ou por alguma situação… Nada do que conquistamos fora nos preencheu ou preenche por dentro, porque deixámos soterrar o que há de mais valioso em cada um de nós: a essência, aquilo que SOMOS de verdade.
MS – Muito obrigada! As suas respostas são uma inspiração!
Obrigada, Marta :)
ResponderEliminarMuito obrigada pela participação! Foi um prazer :)
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