Viajar na Ficção

 

Quero sentir para escrever.

Quero ler para sentir.

Quero sentir o meu coração a vibrar.

Nas páginas de um livro entendo o que não entendi nas páginas da vida. Os personagens estavam lá e eu até poderia ser a heroína, mas estava demasiado distraída com as outras personagens e a perguntar-me o que pensavam e o que seria certo... Nas páginas de ficção, tudo é claro. Vejo-me lá e vejo que por vezes fui heroína, outras vítima e ainda nalgumas a vilã. O que não acontece na vida é resolução daqueles mal-entendidos que nos magoam, mas que nunca ninguém esclarece. Parecem até maldade sem razão.

No entanto, caminho nos trilhos da vida, tropeço e levanto-me. Sinto tudo com uma intensidade maior, os sentimentos que sobressaem nas páginas que escrevo. Vivo intensamente mesmo a dor para que alguém a possa sentir, para que alguém a possa reconhecer. Para alguém que a queira compreender.

Nas páginas que escrevo, vivo vidas que não vivi, vidas que não queria viver, vidas que desejava ter e todas aquelas que deixam a mensagem que o meu coração pede para dizer. Nem sempre é bonito, nem todas as pessoas gostam. Todas as pessoas têm medo porque os sentimentos são como crianças, diretos e não têm receio de ser mal-educados... Apenas a falar sobre eles, a ler sobre eles, vemos as ideias pré-concebidas que temos do mundo e que as podemos mudar. Está certo, está errado? Que importa? Só podemos saber a falar, a viver, escrever e a ler.

Portanto, encontramo-nos numa realidade de imaginação em que nada que está escrito remete à nossa verdade e, no entanto, nas entrelinhas vamos nos encontrando e ligando como se fôssemos personagens da mesma história. Quem escreve e quem lê.

Por vezes, precisamos dessa viagem, para compreender o se encontra no nosso coração, pois, só isso sabemos que é verdade para nós. Ler é mais que fugir da realidade é entendê-la mais profundamente. É compreender-nos melhor.