Ela precisava de dinheiro, os pais dela não lhe deram dinheiro suficiente para comprar uma atualização nova e ela precisava porque a aplicação do Wattpad já não era compatível com o seu minicomputador. Ela tinha de publicar o seu novo capítulo, escrito na aula de história, o mais rápido possível. Os seus leitores iam ficar chocados com a reviravolta na história. Ela já sorria consigo mesma a imaginar os comentários. Enquanto caminhava, sentia as pernas musculadas a palpitar da prática continua de desporto e viu que o sol resolveu brilhar forte naquele dia e aproveitou logo para virar o painel solar do seu minicomputador para o sol, sempre recarregava qualquer coisa. As ruas decoradas com árvores de fruto e pequenos vegetais com proteções elétricas que diziam «não tocar — risco de ficar eletrocutado». As laranjas e cerejas e os tomates plantados ali sorriam e davam água na boca às pessoas que passavam, no entanto, o único sítio onde os poderiam comprar era no supermercado. Os ciclistas tinham uma outra pista do lado oposto em que circulava a alta velocidade. Ela tinha de atravessar. Até dava medo. Os ciclistas não tinham calma nenhuma. Respirou fundo. Olhou para um lado e para outro. Nada. Acelerou o passo e mesmo assim, quando estava a chegar ao outro lado, senti os pelos da nuca a arrepiarem-se com a velocidade do vento do ciclista que passou rente a ela. Suspirou. Pelo menos, não bateu nela.
Chegou ao posto de energizadores. Ela podia não ser muito boa em história, mas sabia que no século XXI um novo sistema económico foi instalado e era tão bom que todos os países tinham-no adotado. O nome que lhe davam era: Energizar. Em vez de se focar apenas no lucro, focava-se essencialmente na energia. Energia era o que era preciso para tudo, nunca era desperdiçada como a comida ou os produtos de stocks. O melhor é que o homem a poderia produzir mesmo sem muitos recursos e sem poluir o ambiente. Afinal, o mundo estava a ficar sem petróleo, e a humanidade tinha conhecimentos suficientes para produzir máquinas, roupas e outras coisas necessárias para produção e para o conforto humano com uma duração igual à média de vida humana. Apenas não o tinham feito anteriormente porque tinham receio de colapsar a economia. Assim, resolveu-se muitos dos problemas ambientais. As pessoas que antes trabalhavam na extração e construção de produtos de pouca duração começaram a dedicar-se a obter tudo requerendo o mínimo do ambiente exterior, deixando o planeta rejuvenescer e reequilibrar o seu clima. Áreas extensas do planeta foram proibidas de habitar e até de serem acedidas pelos homens, sendo apenas utilizadas por militares para treinos de sobrevivência e outros exercícios militares.
Os políticos uniram-se para planear formas de recuperar o seu planeta quando perceberam que não poderiam ir para outro tão cedo. A economia circular tornou-se um sonho a cumprir e as pessoas começaram a trabalhar localmente em vez de globalmente devido a pandemias e falta de meios (petróleo) para transportes longos. Preferiu-se a utilização da Internet para trabalhar mundialmente e para tal era preciso mais do que nunca de energia. Incentivou-se com medidas económicas a poupança de energia. Para tal, deu-se preferência à mão de obra humana para trabalho e obtenção de energia. A política começou por implementar medidas para empregar mais pessoas em cada emprego. Por isso, o horário de trabalho foi reduzido para quatro horas para empregar em vez de uma duas ou mais pessoas. Deixaram de haver turnos para haver quatro postos de trabalho ou mais consoante o emprego. A energia solar nas casas passou a ser obrigatória apoiada por pequenas eólicas ou barragens nos pontos possíveis e pelas baterias dos energizadores.
Como os humanos ajudavam na obtenção de energia? Uma vez que a população do seculo XXI estava a cada vez mais sedentária com problemas de hipertensão, colesterol entre outros, por falta de de exercício físico. Implementou-se medidas para as pessoas ganharem dinheiro ao exercitar-se. Esse exercício dava ao Estado/empresa o que mais precisava: energia! Uniu-se o útil ao agradável e começou a corrida à energia, ou seja a ganhar dinheiro através da energia que se consegue produzir e poupar.
Agora, no século XVI, ao entrar Clio vê os cartazes mostravam pessoas felizes a mostrar o quanto tinham emagrecido ou o cabaz de compras do concurso anual que aquela empresa de energia oferecia. Clio, no entanto, não queria emagrecer, magra estava ela, mas vivia para escrever e o seu minicomputador era tudo para ela, usava-o na escola e para escrever, ver filmes e até mesmo para ler. Sem ele, a sua vida não tinha graça. Depois de entregar a ficha com a rececionista, uma das treinadoras fez o procedimento habitual e perguntou se ela tinha algum problema de saúde e se já tinha feito aquilo antes. Clio lutou contra a vontade de revirar os olhos, uma vez que o trabalho da senhora era perguntar, mas ela já estava cansada de ir ali. Ia ali quase todos os dias. Uma vez que não precisava de limites por ser saudável, tinha de estipular a velocidade que conseguia andar constante. Havia sempre um limite de velocidade necessário para que houvesse uma constante no processo e por isso a máquina avisava para manter sempre o mesmo ritmo, de preferência sem se cansar muito. Enquanto ela andava na bicicleta a energia que ela fazia era recolhida para um gerador. Esse gerador era depois utilizado para dar energia a casas, instituições ou carros (para viajar fora da cidade). O dinheiro que Clio recebia era consoante a energia que conseguisse fazer. Enquanto isso, poderia escolher ouvir música, um audiolivro clássico, ver televisão, ou ouvir uma sessão de encorajamento do género soul cycling.
Clio preferiu a música e depois de terminar o exercício, ficou bastante feliz ao ver a quantia que recebeu. Logo a seguir foi à loja de informática e trocou o chip do seu minicomputador e colocaram todos os dados do seu chip antigo para o novo. Teria mais espaço e maior velocidade na Internet. Ligou-o logo para ver o seu novo sistema enquanto caminhava, viu nos ecrãs dos cartazes de rua o anúncio das novas eleições que iam acontecer naquele mês. Clio pensou que as mudanças entre o seculo XXI e o seu século não eram muitas no sistema político. E ainda bem.
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