O Percurso do Primeiro Romance de Jean-Michel Barrault

Olá escritores e leitores!




Mais uma leitura concluída! Que leitura! Apesar de ser um livro um pouco antigo e ser sobre edição de livros em França, ainda tem muitos aspetos importantes para quem sonha publicar a sua obra numa grande editora. Devia ter lido este livro ou pelo menos ter-me informado melhor sobre como funciona o sistema editorial antes de ter publicado o meu primeiro livro. Agora, já é tarde para lamentar, mas não para aprender. Portanto, vamos saber mais sobre este livro e qual é a minha opinião e os meus pensamentos sobre o tema.

Sinopse:

Tudo o que você queria saber sobre a edição, e que não é o que pensa: as psicoses editoriais, os truques da difusão, os receios dos livreiros, as manias da comunicação social, o cerimonial dos locais obrigatórios...




Seguindo um autor principiante no labirinto semeado de esperanças e ciladas que o leva da busca de um editor às incertezas de um sucesso. Jean-Michel Barrault desmistifica uma profissão ao revelar os seus estranhos rituais. Com um realismo que muito naturalmente se imbui de um humor (quase) feroz.

Opinião

Avaliação 🌟🌟🌟🌟

Antes de mais, quero dizer que este livro foi comprado em segunda mão e é já antigo. Numa altura em que as redes sociais ainda não tinham força que hoje têm e que ainda havia quem imprimia os seus livros para enviar aos editores pelo correio. No entanto, não penso que seja um livro ultrapassado na mensagem que passa sobre a edição e a venda de livros. Apesar de ser baseado no sistema editorial francês consigo associar muito ao que pode acontecer em Portugal e, talvez, no restante do mundo exceto, talvez, as editoras americanas e inglesas em que os livros têm mais saída.




Ao ler este livro revi-me quando terminei o meu primeiro livro, iludida que sabia muito como as editoras funcionavam por conhecer autores que, infelizmente, não tiveram a sorte de ter um bom contrato editorial. Acabei por pensar que todos os escritores pagariam pelos seus livros, fora os que já tinham feito sucesso. Claro está, eu só enviei para duas editoras e na primeira proposta aceitei logo iludida. Se fosse hoje, saberia muito mais sobre a vanity press e não seria levada pela minha vaidade, como o nome diz. A verdade é que não estudei sobre o tema o suficiente antes de embarcar neste processo. Sinto-me culpada também por acusar a editora em vez de ter feito uma pesquisa mais aprofundada antes de enviar o meu primeiro rascunho. Por isso, aconselho a todos os escritores que estão a ler esta opinião que estudem bem todas as opções e pensem bastante antes de se aventurarem.




O narrador é muito irónico e faz-nos rir da ingenuidade e romantismo dos escritores enquanto explica como os editores são levados pelo lucro. O editor vê o livro como um produto que quer tornar comercial. No entanto, o autor faz um papel principal neste processo. O que por vezes é difícil aceitar para os escritores que são «geralmente» introvertidos e reservados. Apresentar livros em público, aparecer em rádio ou na televisão é muito complicado para os escritores (e sinceramente para qualquer pessoa que não está acostumada a esse meio) saber o que dizer e fazê-lo bem. Os escritores esperam que editora faça o sucesso do livro. Mesmo que não tenha sucesso querem que seja porque leram, mas não gostaram do livro. No entanto, que seja lido. Muitos livros em Portugal não têm mais sucesso não é por estarem mal escritos ou por terem histórias desinteressantes. Não têm sucesso porque não são sequer lidos.




Parece que não estou a escrever mais sobre o livro, mas o livro reflete sobre todos estes temas e não estou com receio de fazer spoilers até porque duvido que o consigam comprar (está esgotado na maioria das livrarias) ou que o queiram comprar por estar desatualizado. Por isso, estou a aproveitar para fazer uma reflexão sobre o tema. A principal mensagem deste livro, a meu ver, é que o autor tem de aprender a vender a sua obra e a sua imagem. Isto é muito importante. A maioria dos escritores que são um pouco famosos estudaram nem que seja um mini-curso de marketing, outros tiraram cursos completos e até universitários ou são figuras de comunicação social que sabem o valor da sua imagem. Existe quem siga os modelos de marketing à risca ou quem invista em redes sociais como por exemplo: quem faça canais no Youtube; partilhe poemas quase diariamente nas redes sociais mais utilizadas; escrevam rascunhos em redes sociais como o Wattpad; escrevam blogs sobre o que as pessoas gostam mais de ler em Portugal ou sobre o tema dos seus livros; entre outros. Porque fazem isto em vez de escrever livros?  Para encontrar os seus leitores. Faz parte da profissão, se podemos considerar assim, ou do sonho de ser lido. Podemos não gostar, mas precisamos de aceitar essa realidade.




Gostei que o livro referisse a realidade de não ser lido ou não ter tanto sucesso como vemos outros a terem (sim, porque olhamos sempre para quem tem do que para quem não tem). Além de também que por muito que se venda livros, os escritores têm quase sempre ter outra profissão para viver. Não apenas pelos valores da comissão, mas também pelo tempo que o sucesso de um livro dura. Mesmo os livros que são os mais vendidos tem o seu tempo de ribalta para depois ter compras esporádicas. Por isso, é difícil um escritor viver só de um livro ou só de escrever livros. Esta é a realidade que é bem mostrada neste livro.




Ainda não li nenhum livro português como este sobre todos os passos que a publicação de um livro implica, por isso, não posso recomendar, mas se souberem de algum e quiserem sugerir nos comentários, agradeço :)




Para terminar, quero apenas referir que este livro não é técnico, nem aborrecido é uma história contada por um narrador sarcástico, irónico e com um bom sentido de humor. É um livro que conta tudo o que o escritor sente e o que se passa não só com a edição, mas também sobre os comportamentos habituais dos leitores que, muitas vezes, fazem os escritores perderem a motivação. Como esperar ofertas de livros ou comprar livros como se estivessem a fazer um favor ao escritor, entre outros. 

 Adorei a forma como está escrito e só não dou cinco estrelas por estar desatualizado.