«Só tu me consegues ler», pensou Fernanda a olhar para Rodrigo. O rapaz de cabelos castanhos e olhos cor de mel sorria para os outros membros do grupo que falavam animadamente sobre a viagem que estavam a organizar. Estavam a pensar em ir a Milão. Era uma viagem para conviver com os colegas da secundária. A turma deles era especial, todos se davam bem e andavam juntos para todo o lado. Especialmente por serem apenas sete alunos. Até a escola acabar, agora estavam uns a trabalhar, outros na faculdade e as saudades exigiam algo especial.
– Arrg! Já estou farta disto! Vamos comer pessoal?! – explodiu Margarida
– Vamos! – gritaram Gonçalo e Marco ao mesmo tempo. Afinal de contas, eles adoravam comer.
Fernanda ficou vermelha e abriu a boca, mas nenhuma palavra foi pronunciada.
– O que foi Nanda? – perguntou Rodrigo.
– Tenho de ir trabalhar…. não posso demorar... – murmurou Fernanda.
– Pessoal! Temos que ir aqui perto porque a Nanda vai trabalhar daqui a nada! – gritou a puxar as orelhas de Gonçalo e Marco que já estavam prestes a sair do gabinete.
Eles estavam no gabinete alugado na Biblioteca da Universidade onde Rodrigo e Fernanda estudavam. Fernanda trabalhava numa livraria perto da Faculdade de Humanidades onde ela e Rodrigo estudavam. Era uma livraria-café, mais café do que livraria, e Fernanda trabalhava na cozinha devido à sua timidez. Fernanda estudava Literatura Portuguesa no turno da noite no mesmo curso de Rodrigo:
– E se fossemos ao café da Nanda? Assim era impossível ela chegar atrasada.– sugeriu Ana.
– Boa ideia! – gritaram os homens do grupo.
Tudo isto por Isabella, a empregada de mesa de olhos azuis tão poderosos como o seu corpo bem delineado. Isabella era muito simpática e todos adoravam o seu sotaque russo. Filha de pai russo e mãe italiana tinha um ar bastante exótico. Tinha vindo para Portugal há pouco mais do que cinco anos. Além disso, as tostas e sandes do café eram uma delícia.
Apressaram-se a ir para o café que ficava a dez minutos da Faculdade. Afinal de contas, sete pessoas não era fácil de conseguirem lugar juntas. No entanto, quando lá chegaram o café estava quase vazio. Isabella veio recebê-los com um sorriso tímido e alegria de ter algo para fazer.
– Olá Isabella! Como estás? – perguntou Pedro com olhos a brilhar.
– Bem obrrigada. – Respondeu timidamente. -- Que võ comer?
Fizeram os pedidos enquanto os rapazes não tiravam os olhos de Isabella que ficava sempre corada quando os atendia. Talvez por tivesse vergonha pelos olhares excessivos dos rapazes. Quando ela se retirou, suspirou.
– Ah! Coitada! – reagiu Margarida
– Coitada porquê? – perguntou Pedro
– Ela está ser assediada pelos vossos olhares! Homens! – respondeu revoltada Margarida.
– Que injustiça! Eu não olhei para ela! – respondeu Rodrigo a rir-se.
Viram-se para ele com ar incrédulo, segundos depois, todos se riram. Fernanda riu-se, mas aqueles olhares deixavam-na insegura e a desejar ter um corpo e aspeto como Isabella. No final da refeição, Fernanda levantou-se para ir trabalhar. Na mesma altura Isabella veio à mesa e pediu para falar com Rodrigo a sós. Assobios e pequenos ciúmes vieram da mesa.
Isabella e Rodrigo foram para fora do café e Fernanda desejou poder ir escutar a conversa deles. Quando chegou à arrecadação do café percebeu que como era na cave poderia ouvir a conversa e ver as pernas deles da pequena janela. O coração ficou mais pequenino, mas entusiasmado de poder ouvir a conversa enquanto vestia a farda.
– Desculpa, Isabella, eu acho que és uma pessoa linda, mas eu gosto de outra pessoa. Não acho correto sair contigo.
– E já dizerr a essa pessoa? – sentiu-se a tristeza nas palavras de Isabella.
– Ainda não, mas vou-me inspirar na tua coragem e dizer o que sinto. – respondeu Rodrigo a tentar animá-la.
Fernanda sentiu o coração a bater mais forte. Rodrigo gostava assim tanto de alguém que era capaz de rejeitar uma mulher linda como Isabella? Fernanda corou. Imaginou ser quem ele amava e que lho diria. A sua face ardeu ainda mais. Foi acordada dos seus delírios pelo Senhor António a perguntar se iria demorar muito. Apressou-se a ir trabalhar. Não podia usar o telemóvel no trabalho e, por isso, não viu a mensagem de Rodrigo a dizer que esperava por ela na entrada da Faculdade antes das começarem as aulas.
Ele e ela falavam muito por mensagens no telemóvel e nas redes sociais. Ele sabia que ela era tímida ao falar pessoalmente, então falavam de forma a ser mais fácil para ela.
Ainda se lembrava quando ele a ajudou no seu primeiro dia de aulas. Nesse dia, Fernanda chegou na escola atrasada e não se lembrava qual era a sala. Uns rapazes começaram a rodeá-la e a perguntar tantas coisas: Como se chamava? O que fazia uma rapariga tão bonita ali? Qual era a sua turma? Ela tentava sair do seu círculo fechado e responder às suas questões, mas eles não ouviam.
Rodrigo chegou ainda mais tarde do que ela e interveio dizendo que ela estava com ele. Depois esperou que eles fossem embora e perguntou-lhe o que se tinha passado. Conseguiu ouvi-la e compreendê-la. Não lhe pediu para falar mais alto. Deu-lhe uma festa nos seus caracóis negros e disse-lhe que tinha um belo cabelo. Os olhos verdes de Fernanda brilharam de felicidade. O seu coração agitou-se. Finalmente tinha encontrado a pessoa que sabia compreendê-la.
Quando saiu do trabalho e viu a mensagem de Rodrigo o seu coração agitou-se devido à conversa que ouvira. Tinha medo de ter esperanças. Ao mesmo tempo queria ser a escolhida por Rodrigo.
Quando por fim chegou à Faculdade o seu sonho tornou-se realidade ao ouvir as palavras:
– Nanda, eu gosto de ti.
O amor entre os dois foi selado por beijo demorado.
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