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A Principal Lição Que Recebi da Minha Avó



A minha avó precisou de cuidados durante dezasseis anos. Durante dezasseis anos a minha avó ficou confinada a uma cama num estado de demência. Este tempo foi tempo de muita confusão, falta de compreensão e de custo para compreender uma pessoa que não tem muito para ser entendida. Quantas vezes resmunguei, quantas vezes fiquei magoada, com quantas preocupações fiquei! O que me vale é que não cuidei dela sozinha… Era tão fácil de a minha avó ser mal entendida, mas não estamos todos nesse barco?


A principal lição que aprendi da minha avó, especialmente nos últimos tempos, foi que temos de confiar. Temos de confiar em quem quer cuidar de nós, temos que confiar nos médicos e temos de confiar na vida. Na verdade, não há muito que possamos controlar. Temos uma ilusão de controlo, de que as coisas que quando as coisas nos correm mal tem alguma culpa nossa, que poderíamos ter feito sempre melhor. Mas não podemos controlar tudo, não conseguimos ver tudo. Só podemos fazer o nosso melhor e aproveitar o que temos no momento. Temos de confiar em quem sabe mais do que nós. Temos de confiar em quem quer cuidar de nós.


Quantas vezes desconfiei? Até dos médicos, dos exames! Sim, porque confiamos mais e melhor quando vemos e podemos controlar tudo caso corra mal. É tão difícil ter a confiança cega: «Eu confio em você. Faça o que achar melhor. Estou nas suas mãos.» Na verdade, não estamos? Vamos para o hospital por uma urgência ou porque temos alguma operação ou outro tratamento a fazer e vamos a resistir a tudo, a perguntar tudo com os medos a gritarem na nossa mente. No entanto, mesmo que se enganem, mesmo que nos faça mal, nós não sabemos (os médicos podem também não saber) e mesmo que não aconteça nada disso, as coisas podem correm mal na mesma. Talvez torne-se pior… É impossível controlar.


Quando tudo nos corre mal na vida, quando não sabemos mais o que fazer, quando não temos mais meios de viver ou de ter o que precisamos para sobreviver: não temos de confiar?



Se estivesse cegos, quase surdos, dementes e confinados a uma cama, sem conseguirem ver o que comem, sem verem quem vos trata (por vezes, nem se lembrar de quem são) ou nem mesmo ver televisão... Se não tiverem nada a não ser a vossa voz para chamar por alguém, que poderiam vocês fazer senão confiar?




(PS: Este texto não foi revisto, escrevi para deixar aqui os meus sentimentos como um diamante por lapidar em memória da minha avó.)
Sou blogger e escritora do Wattpad. Comecei a ser blogger para partilhar os meus escritos, mas com o tempo comecei a escrever mais sobre leitura e escrita. Gosto de fugir da realidade para mundos fictícios e acredito que eles ajudam-me a compreender melhor a vida. Não consigo passar um dia sem escrever e sem beber café.

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